terça-feira, 6 de setembro de 2011

Caso Marisa Lobo: tímidas considerações sobre sua carta



Este canal de opiniões volta às atividades, nesta ocasião, precisamente, no intuito de tratar sobre uma questão que preocupa. Uma disputa que vem sendo travada no Brasil atual diz respeito aos direitos dos LGBTs. A decisão tomada pelo STF a favor do reconhecimento de união estável entre pessoas do mesmo sexo parece ter sido um estopim. Levou à revolta de grupos fundamentalistas tanto quanto deu fôlego às nossas lutas e esperanças de uma sociedade mais justa e humana.

Vários desdobramentos têm ocorrido desde então. Ultimamente o caso do kit anti-homofobia, apelidado, indevidamente, ao nosso ver, de kit gay. A desinformação foi flagrante: os meios de comunicação foram, de forma geral, unilaterais; colocando objetivos inverossímeis a respeito. A desinformação aliou-se à uma suposta troca de favores entre as lideranças políticas evangélicas e o PT, levando a Presidenta à suspender o kit.

O Conselho Federal de Psicologia organizou uma passeata em reação à suspensão do kit. Então começa um outro capítulo: A psicóloga Marisa Lobo escreve uma carta ao Deputado Federal Marco Feliciano, questionando a posição: eis uma característica da democracia. Não obstante, existem, no escrito, inconsistências que exigiriam retratação da profissional. Vamos expressar aqui algumas:

  • A referência formal ao kit não é "kit-gay". O termo, vindo daquele contexto, faz eclipse do seu propósito. Ele se destina ao combate da homofobia, não promover a homossexualidade como estilo de vida obrigatório.
  • Afirma que o CFP estaria de "forma pessoal" na campanha. Também afirma que muitos psicólogos não foram consultados. O CFP já esclareceu isto na resposta que deu à psicóloga. A manifestação da instituição foi fruto de construção coletiva.
  • Segundo a carta, existiria uma estimulação sexual precoce ligada ao kit. Mas não se destinaria à crianças. Aparece então uma hipérbole sexual alheia ao kit, na verdade, as cenas parecem ser bastante sutis. Os vídeos retratariam uma realidade que se dá à despeito das opiniões contrárias, em todo o mundo. Nocivizar o vídeo por dar conta de tal realidade nos leva ao passado: se essa realidade deve ser escondida, nada de beijos, abraços, mãos dadas no meio da rua; as crianças podem ver, levando à alguma espécie de dano psicológico. Corolário absurdo: gay e transex, só na calada da noite.
  • Na verdade, quando falamos em kit anti-homofobia, este termo é uma derivação menos formal do projeto inicial, intitulado "Escola sem Homofobia". A cronologia colocada na carta é inverossímil.
  • Coloca que a o conselho agiu de má-fé e de maneira arbitrária. Ora, sem se retratar a respeito das inverdades fundantes da carta, somos impelidos a pensar que não foi o CFP que agiu de má-fé. Marisa parece ser alguém de cultura considerável, autora de vários livros e seguidora daquele mais conhecido no planeta por difundir a fraternidade. A pergunta inicial foi: em que circunstâncias alguém com este perfil escreveria algo assim?
  • O conteúdo audiovisual do kit, que julgamos ser bastante discreto, é relatado como um incentivador sexual, levando à ideia de um sexo resumido à obtenção de prazer. Da forma como foi redigido, parece transparecer uma associação já bem antiga, a dizer que o homossexual procura o sexo por vício, mesmo quando Freud esclareceu equívocos. Assim a comunidade LGBT fica confusa: não se pode casar nem constituir família; não se pode demonstrar afeto; por outro lado não se pode exercer o sexo. Só nos resta então deixarmos de existir na nossa condição. Quem defende tal postura, acaba por tornar defensor daquele que diz: "respeito negros, desde que eles não mostrem a cor da pele (são somos capazes de saber se as nossas crianças poderiam querer tornar-se negras sob influência de sua aparição)". Temos implicações sérias do ponto de vista dos direitos humanos.
  • Ela não é a única a se referir à conteúdos hostis quando fala que o CFP agiu com "truculência". Os opositores da causa sempre são colocados como ditadores. Mas observemos as circunstâncias: um movimento organizadamente democrático age em favor de melhorias para um grupo discriminado; alguém indigna-se do fato e rotula a ação da instituição de "truculenta".
Chegamos à tal situação quando tivemos notícias de uma indicação terapêutica, direcionada à sexualidade, pelo Deputado. Entramos em contato com ambos via twitter (através do perfil @val_yagami). Marisa Lobo foi incapaz de nos dar uma resposta satisfatória, limitando-se a dizer que apenas questionou a decisão do CFP (e que deu a entender que não tratava homossexuais com vistas à subtraí-los desta condição). Já o Deputado não deu nenhum tipo de explicação. O silêncio dos envolvidos intriga e fica a dúvida: qual o sentido da indicação feita via twitter pelo Deputado?

Diante do exposto: a profissionalidade da psicóloga mostra abalo significativo. Poderíamos nos perguntar qual o propósito da Marisa. Seria algum tipo de lançamento político? Por enquanto apenas conjecturas..



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