segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Retratos de autogenia: Um busto


Em filosofia clínica, quando falamos em autogenia, nos referimos ao tópico 30 na estrutura de pensamento [E.P.]. Nossa forma de ser, de existir, pode ser entendida segundo vários tópicos: emoções, raciocínio, pré-juízos, enfim. O tópico em questão nos mostra como os outros tópicos se organizam; nos dá uma visão funcional da pessoa. Os choques tópicos, associações, por exemplo. A ideia de usar imagens e perspectivas para ilustrá-lo veio de uma aula sobre o assunto.
[Clique nas fotos para ampliar]
Mas um aspecto intrigante da autogenia diz respeito às densidades e sublimidades a que ela pode se submeter. Tentaremos, neste post, tratar esta perspectiva de uma forma ilustrativa, mesclando, juntamente, elementos de perspectiva. Com uma câmera de celular em mãos, partimos para a praça do Rosário, situada em Caicó, Rio Grande do Norte. Na praça encontra-se um busto, representando um dos prefeitos da cidade.


[Retrato aproximado da placa exibida na primeira foto]
Capturamos várias imagens, de ângulos diversos, a fim de ilustrar como podemos entender a nossa vizinhança existencial. Lembrando que na verdade esta proximidade se dá, em absoluto, a partir de um enfoque subjetivo. Isto significa que os nossos vizinhos existenciais não são necessariamente aqueles que nos rodeiam, mas o que rodeiam a nossa E.P.. Entretanto, as fotos trazem uma analogia empírica e nos dá margem para outras especulações pertinentes acerca da percepção.


Neste ângulo podemos ver, na aproximação, a fonte da praça e um antigo prédio, que já foi a prefeitura. O foco da câmera, na comparação, é confundida com o foco existencial do busto, caso fosse ele uma pessoa. Traz uma visão horizontal, com foco na arquitetura institucional e histórica, sublinhando uma composição interiorana: a pracinha, com uma fonte singular, cercada de história e de histórias.


Na foto acima, encontramos mais uma vez um quadro interiorano, mas numa proposta diferente da última. Vemos, seguindo do busto em direção ao céu, na sequência: um banquinho; uma planta florida; uma igreja ao lado de um fragmento de arquitetura histórica; um prédio alto junto ao céu. O conjunto daria uma ideia de um hibridade eminente, como um prólogo do desenvolvimento urbano a permear, sorrateiramente, um contexto simples.

Uma proposta nova surge: o prédio moderno é capaz tornar secundário o nosso protagonista. A estrutura à nossa frente preenche toda a perspectiva, dando a impressão de plantas periféricas e céu quase inexistente, como uma visão extremamente urbanista e secular, com raízes no concreto. O busto fita, estaticamente, a magnitude que se levanta por entre e sobre a natureza; ele fita um ápice.
Aqui ao lado, uma perspectiva horizontal. Nos ladrilhos do mosaico, um caminho à frente; os bancos que dão as costas, o desfecho. O elemento de aproximação é a busca, o caminho. O busco o encara.




Aqui está uma das duas perspectivas extremas que mais interessam no texto. O céu, o sublime, as nuvens, ofuscam a imagem da estátua. Os elementos terrestres fazem participação mínima, simbolizados no seu aspecto mais "alto" pelas palmeiras e lâmpadas dos postes.

Ao redor a grama; a terra; o chão; o ladrilho. Lançamos o olhar das lentes ao solo e nada vemos ao redor que não seja do círculo imediato do protagonista. Nos limitamos a ver aqui o que nos circunda direta e objetivamente.

Mas há uma observação: imaginemos, por um instante, que o resultado de composição das imagens se dá por um efeito de zoom. Temos aí mais uma metáfora. Quando aproximamos uma imagem, perdemos seu sentido contextual; enquanto focarmos aspectos específicos demais, perderemos o sentido global.

Em filosofia clínica, os elementos entram proximidade segundo a gestão da E.P., ou seja, segundo a autogenia. Partindo para os exemplos da vida cotidiana, encontramos pessoas que se aproximam de nós pela semelhança da autogenia, pelo que podemos proporcionar no que elas têm de mais relevante. Como colocou Lúcio Packter certa vez em programa de rádio, existem pessoas briguentas que se aproximam enquanto você é capaz de responder à elas com hostilidade. Muitos valentões recuam quando vêem suas vítimas impassíveis diante da agressão ou quando reagem de forma inesperada.

Também seria válido, clinicamente falando, conceber uma aproximação objetiva mesma, tal como sugerido pela fotografia em si. Seria o caso de quando habitamos diferentes ambientes, evocando novas proximidades. Quando mudamos de um bairro carente para uma vizinhança mais financeiramente favorecida teremos elementos novos. Podem surgir também novas formas de funcionamento na E.P. que se diferenciem quando comparadas com as da primeira situação.

Fica a pergunta: quais as suas vizinhanças existenciais?

Nenhum comentário: